
A crônica nossa de cada dia tecida com fatos pitorescos ou sentimentais da surpreendente e inexplicável vida.
sala VIP
sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
vida de professor

Frase de placa

domingo, 19 de dezembro de 2010
Caserna verde: sonho e decepções - I

O 3º Batalhão de Engenharia de Construção, situado em Picos (PI), selecionava, na época, jovens em Floriano (PI), para servir ao Exército Brasileiro.
Ao completar 17 anos, alistei-me e, portanto, ansiosamente, fiquei esperando o dia da realização dos exames médicos e psicológicos. O desejo de eu incorporar-me no exército era muito mais do meu pai do que meu. Quando nasci, num rincão piauiense isolado do mundo, meu pai, muito contente, falou para minha mãe: “Este menino vai ser um soldado do Exército Brasileiro!” O sonho dele poderia estar próximo de se concretizar.
A seleção era feita no Floriano Clube, localizado na Rua São Pedro. O clube estava lotado de jovens que sonhavam servir o exército, pois, na época, esse era o vestibular para o indivíduo tornar-se efetivo da Polícia Militar do Piauí. Não havia concurso. Um tenente mandou que todos tirassem as roupas. Foi um momento muito hilário, pois surgiram cuecas que tinham praticamente só o cós – furada, suja e de cor indefinida. O médico, que também era tenente, chegou e esbravejou:
- Foi ordenado que vocês ficassem nus! Alguém aqui não sabe o que é ficar nu?
Ainda hoje tenho vergonha de relatar, pois foi um dos piores constrangimentos que já vive. Nós, homens, somos muito sistemáticos com relação a ficar nu diante de outro homem. Imaginem diante de quase 200 (duzentos). Os jovens, inclusive eu, apertavam as pernas e, com uns gestos encabulados, cobriam os órgãos genitais com as mãos. O médico, com cara de mau e voz estridente, entrou em cena novamente:
- Em fila! Pernas entreabertas e braços descolados do corpo!
Ah, meu deus, que situação! O médico sacou uma antena cromada de rádio e, distendendo-a, começou a examinar, um a um, todos nós. Chegou a minha vez. Ele disse:
- Abra a boca!
O indivíduo deveria ter um número mínimo de dentes para ser selecionado.
- Levante os braços até a altura dos ombros.
Observou a simetria do meu corpo.
- Abra as pernas!
Falava sempre em tom de quartel: a última palavra da frase sempre tem sílaba tônica. Levantou, com a antena, o meu pênis e observou se não tinha alguma micose ou ferimento.
- De costas!
Novamente, observou a simetria do meu corpo. Então, disse-me:
- Vá fazer o exame de vista.
O exame oftalmológico era muito simples: a gente cobria com uma das mãos um dos olhos e ficava lendo aleatoriamente, de acordo com a letra apontada pelo médico, o alfabeto em diferentes caixas. O mesmo processo se repetia com o outro olho.
- Pode ir para a entrevista!
sábado, 11 de dezembro de 2010
VOU TE CONTAR, SAM!

Entrei no II Amigo Secreto Virtual de Natal da Ester, do blog UNIVERSO, e depois fiquei matutando: detesto dar presentes, pois não sei escolhê-los. Chegou o anúncio do sorteio, eu deveria presentear SAM. Pânico: achei que fosse um homem, pois SAM me arremeteu, erroneamente, a Samuel e não, por exemplo, a Samara. SAM continua, pra mim, um enigma. Acessei o blog VOU TE CONTAR e, para meu alívio, SAM é uma mulher de 25 anos. Alívio? Li o perfil dela e extrair poucos e evasivos traços de sua personalidade. Pânico: o que dizer, então, para ela? Senti-me um infanto-juvenil tentando memorizar frases para dizer a uma garota. Vorazmente, passei a ler a página dela e fiquei, à medida que verticalizava nos textos, mais paranóico, pois o que eu poderia dizer à pulsante autora de VER-Sou-DESEJO?
SAM gosta de poesia concreta e, se ela não estiver fingindo, ama a vida bucólica; retrata, nostalgicamente, seus sentimentos; parece-me sonhadora além dos limites, pois ela diz: “o real é ardido”. A SAM é supersticiosa “com pimenta no pescoço e mel na boca”. Meu deus, que presente eu daria para essa mulher? Quiçá eu pudesse dizer: os nossos destinos se encontraram num sorteio ou, então, gostaria que as notas musicais intrínsecas da amizade fizessem vibrar a sua alma... Muito piegas!
A falta de inspiração, SAM, mulher de textos envolventes e apaixonantes, abafou o poema que escreveria para você. Eu lhe presentearia:
Com um poema que não escrevi
Acompanhado de uma imaginária rosa vermelha,
Colhida no jardim “Flor-Rir”
E um cartão de amizade virtual
Selado com o coração de um blogueiro.
Beijos na “alma de guaraná”
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
vida de professor

Fui, aqui em Zé Doca (MA), na agencia dos correios com o objetivo de adotar uma cartinha endereçada ao Pólo Norte. Perguntei ao auxiliar administrativo:
- Vocês participam da campanha Adote uma Carta?
- Sim.
- Eu gostaria de participar.
Com um carimbo suspenso no ar, ele me olhou e, então, achando que eu queria pedi algo a Papai Noel, disse:
- Você escreve uma carta e entrega aqui para nós!
- Você não entendeu: eu quero adotar uma carta.
Novamente, parou de digitar sei lá o quê e, num tom normal, interrogou-me:
- Qual é o seu telefone? Onde você trabalha?
Identifiquei-me. Ele, sem convicção, disse-me:
- Ainda não chegou nenhuma carta aqui.
Afastei-me e pude percebê-lo fitando-me com um olhar vacilante sobre os óculos. Saí cheio de dúvidas se ele teria acreditado em mim e, portanto, fiquei convencido de que eu tenho cara de pedinte e não de Papai Noel. De qualquer forma, retornarei lá para tentar resgatar uma cartinha. Pelo menos uma, com certeza, não terá o endereço do lixão da cidade. Cidade de pedra, sem coração.
P.S: Fugi do meu estilo de escrever para tentar tocar o seu coração com a repetição de vocábulos que formam um texto lasso.