sala VIP

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

vida de professor



Em função de eu ter sido aprovado no Instituto Federal do Maranhão, vim morar na cidade de Zé Doca. Ao chegar na cidade, como não conhecia nada nem ninguém, hospedei-me num pequeno hotel. Vinte e dois dias depois, recebi um convite de três maranhenses de São Luís, Péricles, Luiz e Cidreira, para alugarmos uma casa. Assim foi feito.
Cidreira, que se diz um católico praticante, passa horas a fio, todos os dias, fazendo orações. Sinceramente, se eu fosse o deus ao qual ele dirige tantas rezas, já estaria aborrecido ou, então, teria realizado todos os desejos dele.
Pois bem, certo dia, Cidreira, no pré-sono, iniciou, circunvizinhado de santos, as suas rezas:
- Eu durmo com São Sebastião, São Pedro, São Paulo...
Pouco tempo depois, ouvi um estrondo seguido de uma voz abafada, chamando-me:
- Zéééééééé...
Ele gosta de chamar-me de Zé.
Fiquei pensando: desceu uma entidade no padre. Em função de ele rezar exaustivamente, ganhou a alcunha de padre. Sorrateiramente, fiquei olhando pro quarto do padre. Pensei: “Péricles, o pastor, não está aqui para exorcizá-lo e Luiz, o maior da turma, não está aqui para segurá-lo, então, estou ferrado. Se o padre espirrar do quarto incorporado numa entidade valente, eu to ferrado!” Caminhei devagar... devagarzinho. Desconfiado, empurrei, cuidadosamente, a porta do quarto do padre. O armador da rede tinha sacado da parede e, portanto, o padre estava estatelado no chão. Tinha desabado com rede e tudo. Aliviado, parei na soleira da porta. Cidreira disse:
- Zé, eu caí.
Então, eu objetei:
- Também, Cidreira, você dormindo junto com esse tanto de macho... não tem rede que agüente.
Naquele momento, Cidreira esqueceu a devoção e disse:
- Estava rezando só para São Sebastião e, no entanto, esse filho da puta deixou-me cair.

cidadezinha



É manhã.
O sol arrebenta no horizonte ensangüentado. Numa parte qualquer do globo terrestre, uma cidadezinha – que não passa de um labirinto onde as pessoas fazem apodrecer as suas esperanças – é alvejada pelos raios solares. Os raios que fulminam as avenidas, ruas, ruelas e praças, fazendo a cidade espreguiçar-se, expulsam a ressaca noturna. Os motores dos carros, com os seus roncos cadenciados, fazem as articulações da cidade estalarem-se, uma a uma. De portas abertas, as casas parecem sorrir.
As mesmas casas de paredes apáticas. Lojas. Armazéns. Armarinhos. Não muda nada. Bons dias, boas tardes e boas noites repetidos, sem convicção, pelas mesmas pessoas. Pura formalidade. Ruas fétidas. O lodo escorrendo no meio-fio, o calçamento pontiagudo... Nada muda. Raros homens estrangulados, físicos e moralmente, por gravatas multicolores correm em destino ao serviço monótono do cotidiano: carimbar laudas de papel. Podem, perfeitamente, ser substituídos por um robô. Nada muda.
Como é que se consegue passar a vida inteira caminhando medievalmente em círculo dentro de uma cidadezinha? Não passa de um labirinto onde as pessoas fazem abduzir suas esperanças, seus sonhos, suas vidas... E nada mais.
É mais uma manhã.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

vida de professor



A professora Edna, chefe do Departamento de Ensino Profissional do Instituto Federal, campus Zé Doca (MA), como iria se afastar do departamento em função de suas férias, apresentou-me, assim, a professora Anairan:
- Professor, aqui está a minha substituta, pois vou descansar.
Disse eu:
- Descanse em paz, professora!
A professora Edna arregalou os olhos e, então, repreensivamente, falou-me:
- Professor, não gostei do modo como você falou! Parece um agouro. Deus me livre!

De repente, 2010!


No meu período de infância, a literatura de cordel (cordão) era muito difundida. Os vendedores de cordel, através de megafones, cantavam, pesarosamente ou animadamente, os versos das brochuras impressas em papel ordinário. O povo, no meio de feiras livres, acotovelava-se para ouvi-los. De quando em vez, os vendedores interrompiam a leitura e, portanto, como condições para continuar a estória, estipulavam a venda de uma determinada quantidade de exemplares do cordel em voga. Lembro-me de alguns títulos famosos como, por exemplo, “O capitão do navio”, “As proezas de João Grilo”, “A chegada de lampião ao inferno”, “O fim do mundo”, etc.
Os versos de “O fim do mundo” diziam, entre muitas profecias populares bizarras, que o mundo não completaria 2000 anos, segundo o calendário gregoriano. Muita gente se emocionava e, no meio da multidão, chorava. Eu contava nos dedos quantos anos teria no majestoso e apocalíptico ano 2000 e, fazendo uma rápida avaliação, ficava satisfeito com a projeção. Pra mim, na época, os dias passavam-se tão lentos e, portanto, tudo me parecia eterno... Inclusive a minha família. Hodiernamente, sinto que o tempo pretérito foi rápido e o futuro parece-me muito distante. Os meus projetos se resumem a curtos e médios prazos. O fim do mundo fica, a cada dia, mais próximo: ninguém é eterno.
De repente, 2010. Um charmoso número: vinte, dez. Colocarei pequenos projetos debaixo do braço e, portanto, com a cabeça erguida, marcharei dinamicamente para o futuro que, em um dia tenebroso qualquer, se transformará num buraco negro.
De repente, dois mil e tanto!

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Estilo de vida



Caros colegas,

A penumbra do final do ano escondeu, por trás do meu semblante mórbido e pesado, a motivação de escrever. Vale, portanto, ressaltar que não tenho nada contra o ano de 2009. Muito pelo contrário: foi o ano de minha redenção profissional.
Quiçá a preguiça de ser um cidadão, isto é, um indivíduo informado, consciente e participativo, tenha vingado no bojo da saudade que me separa de meu filho. Hoje, moro em Zé Doca (MA) e ele, juntamente com os avós, em Floriano (PI). Tenho dois motivos explícitos para não trazê-lo pro Maranhão: 1) separá-lo de minha mãe seria muito traumatizante para ela; 2) os colégios de Zé Doca não me agradaram.
Com a nostalgia, já engordei ou inchei (sei lá) alguns quilogramas, no entanto, a partir de hoje, tentarei atualizar esta página com histórias que, tenho certeza, vão agradar a muitos e, também, serão escarnecidas por outros. Até breve!
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