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quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

vida de professor

O meu filho, como é de conhecimento público, fusão genética que me orgulha oriunda de um casamento fracassado, ficou comigo. Hoje, a mãe dele vive em Belo Horizonte, eu moro em Zé Doca (MA), portanto ele está com a minha mãe, em Floriano (PI).

Quando fui aprovado no concurso do IFMA – Instituto Federal do Maranhão, pensei em alugar a nossa casa, em Floriano, mas ele me perguntou, muito deprimido: “Pai, onde eu vou colocar as minhas coisas?” Cancelei, na hora, a idéia: ele ficaria sem referência – pai, mãe e casa.

Pensava ele, também, que, com a minha transferência para o Maranhão, estaria a abandoná-lo. Fazia-me perguntas o dia todo. Andava muito sorumbático. Desfigurado. De quando em vez, eu o surpreendia contemplando fotos no computador da ex-família unida.

Quando fui embora, deixei a chave da casa com ele. No entanto, várias consecutivas vezes, minha mãe ia buscá-lo na casa, pois, sozinho, ficava sentado, horas a fio, na calçada. Ele dizia: “Vó, não tem mais ninguém na minha casa!”

Pela primeira vez, foi reprovado no colégio. A coordenadora, cheia de autoritarismo, provocou-me: “Você tem que obrigar o Jones a estudar!” Falei: “Professora, primeiro você deveria avaliar os problemas que esta criança está enfrentando: vive com os avós, pois eu e a mãe dele nos separamos. Eu não vou, em hipótese alguma, chegar aqui para tomar medidas antipáticas e ostensivas: poderá ficar, a cada dia, mais distante de mim. Como educadora, você deveria aprender a manipular o diálogo e não o chicote!” Ela, meio constrangida, baixou a cabeça e não me disse mais nada.

Agora, estou completando 60 (sessenta) dias de férias junto com ele. Nos dias letivos, vou, como nos tempos da família unida, deixá-lo e, também, buscá-lo no colégio. A alegria dele é contagiante: quer mostrar para todos que, também, tem um pai. Entra todo orgulhoso no carro e fica, insistentemente, a cumprimentar os colegas, professores e trabalhadores da educação. Em casa, arrasta sorrisos pelos quatro cantos, canta, brinca com a Princesa (uma cadelinha basset) e fica o tempo todo a me seguir.

Ansiosamente, espero o dia em que iremos, eu e ele, morar numa mesma casa.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

A poetisa multifaces



Despretensiosamente navegando pela internet, acessei um blog. Li, gostei, passei a segui-lo e comentei. No dia seguinte, a autora acessou a minha página, leu, não sei se gostou, seguiu-me e comentou. Iniciava-se uma permuta de comentários. Ganhei uma intelectual, elegante verbalmente e fiel leitora - um dos orgulhos do blog. Pena que a nossa interação seja apenas virtual, pois gostaria de, pessoalmente, conhecê-la.
Iracema, de José de Alencar, índia dos lábios de mel, nativa da tribo dos tabajaras, filha de Araquém, velho pagé, era uma espécie de vestal por guardar o segredo da jurema, bebida mágica utilizada nos rituais religiosos. Na história que hoje conto não tem Martim Soares Moreno, Poti, Irapuã, Caubi e Jacaúna, mas tem, como no romance, muita sensibilidade e fibra poética. Refiro-me a Ira Buscacio, ou melhor, Iracema Buscacio, do blog Faces do Poeta, que é a aniversariante do dia. Ela escreve poemas com uma lógica vocabular ferina, rasgou o vestal há muito tempo, guerreira da tribo carioca, destemida, usa verbos afiados e letais, luta pelas causas sociais; não guarda segredo da jurema, mas o seu ritual poético provoca alucinações nos leitores.

Quando cursava engenharia mecânica, na UFPB, Ira(cema), publiquei, no Correio das Artes, este poema, que hoje lhe DEDICO:


Menina-moça
Não uso camisinha
no meu coito poético:
tira a sensibilidade dos versos.
A poesia virgem e inocente
requebra-se afrodisiacamente
entre as quatro paredes
do meu quarto agressivo
(motel de terceira classe),
despertando o meu instinto
animalesco e afável.
Amarrotamo-nos.
Lambuzamo-nos. Não assumo.
Depois, visto a poesia
(completamente saciada)
com uma gramática
bem curtinha... curtinha
(mostrando o fundo do verbo
e as frases roliças)
e ponho-a no olho da rua.



Para que a nossa amizade não fique tão digitalmente gelada, guerreira, feche os olhos, aceite e sinta



um beijo de ternura nos lábios de mel



FELIZ ANIVERSÁRIO, POETISA

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