O meu filho, como é de conhecimento público, fusão genética que me orgulha oriunda de um casamento fracassado, ficou comigo. Hoje, a mãe dele vive em Belo Horizonte, eu moro em Zé Doca (MA), portanto ele está com a minha mãe, em Floriano (PI).
Quando fui aprovado no concurso do IFMA – Instituto Federal do Maranhão, pensei em alugar a nossa casa, em Floriano, mas ele me perguntou, muito deprimido: “Pai, onde eu vou colocar as minhas coisas?” Cancelei, na hora, a idéia: ele ficaria sem referência – pai, mãe e casa.
Pensava ele, também, que, com a minha transferência para o Maranhão, estaria a abandoná-lo. Fazia-me perguntas o dia todo. Andava muito sorumbático. Desfigurado. De quando em vez, eu o surpreendia contemplando fotos no computador da ex-família unida.
Quando fui embora, deixei a chave da casa com ele. No entanto, várias consecutivas vezes, minha mãe ia buscá-lo na casa, pois, sozinho, ficava sentado, horas a fio, na calçada. Ele dizia: “Vó, não tem mais ninguém na minha casa!”
Pela primeira vez, foi reprovado no colégio. A coordenadora, cheia de autoritarismo, provocou-me: “Você tem que obrigar o Jones a estudar!” Falei: “Professora, primeiro você deveria avaliar os problemas que esta criança está enfrentando: vive com os avós, pois eu e a mãe dele nos separamos. Eu não vou, em hipótese alguma, chegar aqui para tomar medidas antipáticas e ostensivas: poderá ficar, a cada dia, mais distante de mim. Como educadora, você deveria aprender a manipular o diálogo e não o chicote!” Ela, meio constrangida, baixou a cabeça e não me disse mais nada.
Agora, estou completando 60 (sessenta) dias de férias junto com ele. Nos dias letivos, vou, como nos tempos da família unida, deixá-lo e, também, buscá-lo no colégio. A alegria dele é contagiante: quer mostrar para todos que, também, tem um pai. Entra todo orgulhoso no carro e fica, insistentemente, a cumprimentar os colegas, professores e trabalhadores da educação. Em casa, arrasta sorrisos pelos quatro cantos, canta, brinca com a Princesa (uma cadelinha basset) e fica o tempo todo a me seguir.
Ansiosamente, espero o dia em que iremos, eu e ele, morar numa mesma casa.