O café da manhã era um mirrado pão francês, que cabia na palma da mão, e uma caneca de 500 ml de café com leite, ou melhor, água suavemente tingida.
Depois do “café”, fomos submetidos a uma longa série de exercícios. Sentia a barriga chacoalhando. E o tenente, correndo em ziguezague entre os recrutas, gritava:
- POSTURA, postura, postura... Todo mundo durinho, durinho, durinho...
De quando em vez, parava em frente a um de nós e, socando energeticamente nossas barrigas, ordenava:
- BARRIGA pra dentro, PEITO pra fora!
A água tingida, batizada de café com leite, revolvia angustiantemente por dentro e, portanto, subia às narinas um incomodante odor acre. Contínhamos o lanço e, paralelamente, engolíamos ofegantes.
- POSTURA, postura, postura... Barriga pra dentro, peito pra fora...
Todo mundo resistia bravamente, pois o sonho de todo recruta era pertencer ao Pelotão Especial (PELOPES), cujos integrantes eram vistos como super-humanos, e, também, tinham regalias exclusivas dentro do quartel. Determinado momento do treinamento, o tenente sentenciou:
- Agora, vamos formar um pelotão especial: o PELOFA. Quem souber dirigir, levante a mão.
Poucos se manifestaram. O tenente, apontando para um espaço vazio, disse:
- Venham pra cá. Quem souber escrever – continuou ele, levante a mão.
Dezenas de mãos foram espalmadas freneticamente no ar. Naquele momento, senti, impaciente, que as minhas chances de pertencer ao pelotão eram ínfimas. Eu olhava com convicção para o tenente como se estivesse dizendo: selecione-me. Fui negligenciado no meio de tantos acenos e, portanto, o meu egotismo foi violentamente ferido. Os recrutas escolhidos já manifestavam um olhar superior e, também, não continham a felicidade esboçada nas faces. O tenente, num tom irônico, concluiu:
- PELOFA, seus voadores, significa Pelotão da Faxina. Portanto, os motoristas peguem os carrinhos de mão e os escritores, as vassouras: pátio e banheiros limpinhos até as 12h.
Entre os recrutas, gargalhadas generalizadas das fisionomias dos caras “especiais”.