sala VIP

sábado, 17 de outubro de 2009

acrofobia: face a face com a morte



Participei de um Seminário Nacional de Estudantes de Engenharia em Belém (PA) como membro da delegação da Paraíba.
De manhã, as meninas acordavam e, sem nenhum pudor, saiam desfilando semi-nuas nos corredores da Universidade Federal do Pará em direção aos banheiros. A delegação do Rio Grande do Sul, que chegara atrasada em função da distância entre os Estados, apresentava muitas meninas altas e belas... belíssimas!! Elas sabiam que desmontavam os homens e, portanto, requebravam-se com convicção. Nós, os meninos das outras delegações, acordávamos cedo e organizávamos um “corredor polonês” do desejo contido para rastejar os olhares febris atrás das gaúchas e mineiras. Elas passavam, geralmente com a cabeça inclinada para a direita ou para a esquerda, com um olhar gracioso e um sorriso de deboche e malícia. Suspirávamos, gritávamos e aplaudíamos. Os excessos ou palavrões não eram permitidos. Éramos agraciados com cenas formidáveis.
Ao quebrar da tarde, para mirar a exuberância da natureza, os estudantes subiam numa escada, em forma de espiral, em torno de uma caixa d’água, situada nos fundos da UFPA. Depois da caixa d’água, os limites da universidade são determinados por um rio muito largo. A universidade era geograficamente beneficiada com igarapés que, durante o dia, pareciam córregos mortos: apresentavam barcos enterrados na lama juntamente com as cargas de madeira que rebocavam. No entanto, durante a noite, na ressaca do rio, os barcos e toras gigantescas de madeira ficavam flutuando como se fossem de isopor.
De quando em vez, eu dava uma escapadinha dos mini-cursos, acendia uma “brasa” e ficava “navegando”, deitado sobre uma árvore às margens do rio. Os meus pensamentos eram rebolados pelas águas pra lá e, logo em seguida, pra cá. Às vezes, eu via, muito distante, um ou outro barco rabiscando as águas do rio. Parecia um brinquedo de criança dançando no ritmo das águas. Afirmo: não era alucinação.
Certa tarde, como a caixa d’água estava extraordinária: repleta de gaúchas, mineiras, etc., resolvi desafiar o meu medo de altura, e, portanto, subi, até de forma equilibrada, a escada espiralada. Um aroma gostoso e sensível de mulher inebriou-me escada acima. Cheguei ao topo, mas não pude apreciar o cenário, pois o pânico, de chofre, invadiu-me. Todo o meu corpo foi tomado por uma estranha sensação de fraqueza e, imediatamente, se eu não me sentasse, poderia desabar caixa d’água abaixo. Não era uma atitude pusilânime, pois eu estava ali tentando mostrar para as meninas que era macho com m maiúsculo. Mesmo sentado, se eu abrisse os olhos, uma força negativa me impulsionaria para a morte. Uma estranha fraqueza me dominava de tal forma que eu não conseguia apoiar-me no corrimão da escada. Parecia que todos os meus sentidos estavam paralisados e a única opção que me restava era atirar-me no vazio. Sentia uma atração fatal pelo vazio. Não sei explicar. Fiquei num estado de demência (psicose) e o abismo era um atrativo quase irresistível. Então, fui pivô de uma das cenas mais constrangedoras de minha vida: fechei os olhos e desci sentado, escalando degrau após degrau, todo o lance de escada em torno da caixa d’água.
Não consegui superar o medo, mas, em relação à altura, multiplicá-lo, pois, quando me recordo dessa cena, sinto uma estranha sensação de leveza corpórea provocado por um anestésico mental.

Um comentário:

Anne Lieri disse...

Antonio,que sufôco vc passou!Fico imaginando a cena onde vc desceu sentado,devido a vertigem!São coisas mesmo de garoto,mas lembranças muito boas e divertidas!Bjs,

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