sala VIP

quinta-feira, 28 de julho de 2011

caserna verde: sonho e decepções VII

Depois de empurrar e ser empurrado, proferir e ouvir palavras de baixo calão, consegui, numa grande aflição e nervosismo, abrir o meu armário. Como esperava, nada estava adulterado ou urdido. Assuada generalizada nos vestiários. Ninguém tinha tempo de observar nem o companheiro que estava ao lado, pois o tenente, com aquela voz grave que fazia a alma vibrar de medo, continuava, cadenciadamente, pontilhando o tempo. De chofre, ouvimos:

- DEZ.

Em seguida, berrou rasgadamente:

- TODOS PARA FORA DOS VESTIÁRIOS!!!!!

Quando saímos cabisbaixos, ele, o tenente, estava transformado, no ponto médio central do corredor, numa estátua viva. Enquadrava-nos com uma expressão de indignação. Depois dos vestiários evacuados, o homem sem gestos ordenou ao recruta postado à sua destra:

- Entre e procure seus pertences, voador.

Num tempo relâmpago, ouvimos:

- ACHEI, Senhor!

- Onde?

- Jogado num dos banheiros.

O tenente avançou em direção ao pelotão como se fosse nos esmagar. Subitamente, parou e, com os olhos endurecidos e reprovativos, ficou, durante alguns segundos, a nos encarar. A expressão na face dele era tão forte que, mesmo inocente, me senti culpado. Ele não disse nada. Virou as costas e, com passos firmes, esvaeceu no corredor.

Depois de uma série complexa de exercícios, fomos levados para o refeitório. Era meu primeiro café da manhã na caserna. Fiquemos um longo tempo a esperar, pois as refeições eram servidas primeiro para os oficias e alunos. Finalmente, nosso pelotão foi desfeito. Entramos na fila. Quando eu estava recebendo o café, um grito assustador ressoou pelo refeitório:

- EI, VOCÊ!!!!!

O ambiente ficou tenso. Todo mundo na espreita. Nós éramos anônimos: ainda não tínhamos o nome de guerra.

- Você mesmo de camisa azul. – disse um oficial apontando para um recruta. Saia da fila e venha até aqui.

Nervoso, o recruta aproximou-se do inquisidor, que continuou:

- Derrame o café e coloque os dois pães no lixo. Para todos vocês, voadores sem educação, aqui tem ordem. Cada um só tem direito a um pão. Mandei que esse caga-pau jogasse os dois pães no lixo só por que ninguém sabe onde ele andou metendo essas mãos de merda. Agora, voador, volte para o pelotão. Que este exemplo sirva de lição para vocês. Caso encerrado.


 

domingo, 10 de julho de 2011

vida de professor

O professor de Física Janiel ministra aulas no Instituto Federal do Maranhão, campus Zé Doca (MA) e, também, em vários cursinhos preparatórios para vestibulares em Teresina (PI), à 435 km de distância, onde tem residência fixa. A semana dele é fracionada laboralmente entre as duas cidades.

Pois bem, contou-me que, depois de ministrar aulas em Teresina nos períodos matutino, vespertino e noturno de uma segunda-feira, chegou completamente extenuado em casa e, automaticamente, retirando os tênis, jogou-se no sofá e deixou as pernas descansando sobre uma mesinha de centro. A empregada doméstica ficou, meio interrogativa e incrédula, a fixá-lo. Não se conteve e, então, perguntou-lhe:

- Janiel, o senhor trabalha em algum lugar ou só dá aula?

Pois é, ela passou o rodo no ofício de professor.
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