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terça-feira, 22 de junho de 2010

desejo de torturar criança III



No século XVI, foi introduzido no Brasil, pelos jesuítas, o castigo físico em crianças. Os índios, considerados não civilizados pela cultura portuguesa, abominavam a atitude de torturar crianças. No Brasil colonial, a palmatória foi introduzida para promoção de uma disciplinada educação.
A palmatória, um circulo de madeira com uma haste proeminente para apoio, era, no meu período de infância, um dos objetos de tortura. Geralmente, ela continha um furo bem no centro do circulo que, ao chocar-se com o pé ou a mão do torturado fazia bolhas: atuava à guisa de uma ventosa. As palmadas eram contabilizadas, de acordo com o julgamento do torturador, invariavelmente, em meia dúzia, uma dúzia, uma dúzia e meia, etc.
O torturador, geralmente o pai ou responsável, segurava nas pontas dos dedos da criança e, ameaçando quebrá-los se a mão fosse fechada, batia com uma força desproporcional aos ossos em formação. O sangue fervia. A criança, com os olhos esbugalhados acompanhando o movimento da palmatória, cuspia na mão castigada e esfregava-a no corpo. As palmadas eram alternadas, uma em cada mão. Cada palmada ardia como se estivesse pegando fogo no sangue. A mão, por um instante, adormecia e, com a palmada seguinte, parecia que estava se esfarelando. A criança, nas pontas dos pés, implorava humilhantemente pelo fim do castigo, mas, geralmente, havia uma tal de “surra casada” onde, entre cada palmada, havia uma pausa, cadenciada, para o torturado ouvir uma ladainha dos seus “erros”: “Lembra-se disso... Lembra-se daquilo”, et cetera e tal. E quando parecia que já estava tudo resolvido, ainda vinha um “Ah, estava me esquecendo...”. O torturado, não raro, urinava nas roupas.
A educação pela palmatória pedagógica eu não quero para o meu filho, pois isso não é, como muitos pensam e suspiram saudosistas, lembrar de um pretérito de respeito, onde um olhar dizia tudo, mas de sofrimento, perversidade, ignorância e terror.

Um comentário:

Leandro disse...

Nem sei o que falar sobre castigos, li todos os seus artigos nesse tema e vou falar só aqui, e, só uma vez.

Muito fácil dar uma sova e não assumir responsabilidades, ja dizia Freud que esse tipo de prática vem do desejo sexual não satisfeito dos pais, vontade de práticas sadomasoquistas...

Só que o que vejo é uma tremenda irresponsabilidade em educar.
Uma pena, porque ja que não há responsabilidades, vem aí algo pior, que é uma lei. Creio que o problema vai piorar.

Pior, essa irresponsabilidade vai pros filhos tambem, muitos aprontas com a certeza de que vão apenas levar uma sova, nada mais. O erro continua, pior, passa a mais gerações

Volta e meia, me vejo no debate de gente dizendo que "quando eu tiver meus filhos(as) eu vou ver"...
Certamente, com a minha consciência, eu não estaria empregado numa escola, visto que o número de filhos iria cair drásticamente.
Mas esse problema vai desde tabus sexuais e o puro prazer da falta de educação e planejamento familiar.

O diacho é que quase 99% dos professores, pais e estudantes, até mesmo crianças, acham que "tem que castigar". Parece que só eu sou contra, radicalmente contra.

Como disse, nem sei o que falar mesmo... Se eu for escrever, escreverei um livro, há muito a falar contra essa prática.

Tomara que o seu outro relato seja verdadeiro, não algo um pouco romanceado com seu dom de prosa.
Nesse tema, não consigo prosear, só expressar revolta mesmo.


Ah, em tempo, desculpe minhas palavras de sacanagem.
Belo blog, parabens

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