sala VIP

terça-feira, 21 de setembro de 2010

vida de professor


O telefone sem fio chegara à cidade. O telefone de meus pais, de cor vinho gritante, estava com defeito: a pessoa falava e, paralelamente, ouvia a própria voz. Resolvi presenteá-los com um novo aparelho. Adentrei numa loja de departamentos em Floriano (PI) e, meio ignorado, fiquei olhando, por muito tempo, as vitrines, onde os telefones encontravam-se isolados. Meio desacreditado em vender-me alguma coisa, aproximou-se um vendedor. Perguntei-lhe:

_ Qual o preço deste aparelho?

Olhando-me de cima a baixo, o vendedor, fazendo uma cara de desânimo, distorceu a resposta de minha interrogação:

_ É preciso comprar uma linha para este telefone funcionar!

Tive vontade de dizer alguns impropérios para o vendedor, mas, contendo-me, resolvi prossegiur a interlocução:

_ Essa linha é para amarrar o telefone?

A fisionomia dele poderia ser traduzida pela frase: “Como tem gente imbecil nesse mundo.” A contragosto, articulou:

_ A linha é comprada na TELEPISA.

Na época, a TELEPISA – Telecomunicações do Piauí S.A, era a concessionária vigente. Debochei:

_ Você quis dizer “Casas das Linhas”, não?

O cara ficou inacreditavelmente pasmado e, então, objetou:

_ Aconselho você a não comprar o aparelho.

Retirou o fone da base e, como um demente, começou a falar asneiras desconexas. Estendendo-me aquela máquina do tempo, disse:

_ Teste como está mudo. É assim que vai ficar na sua casa!

Com um aspecto curioso de aprendiz, protestei:

_ Você não ligou nenhum número!

O vendedor descontrolou-se e, então, entre os dentes e bem próximo do meu ouvido, gaguejou nervoso:

_ Liga pro inferno que tu vai ouvir uma voz bem docinha...

Não perdi o lema e, instantaneamente, completei:

_ É a sua mãezinha quem vai atender?

Ele fez um gesto obsceno com os dedos e, furioso, retirou-se balbuciando vocábulos impublicáveis.





BlogBlogs.Com.Br

8 comentários:

Penélope disse...

Antonio, vendedores como este encontramos diariamente...
Foi-se o tempo que alguém tinha dedicação ao trabalho.
Eu também tive um aparelho telefônico cor de vinho na casa dos meus pais e era um luxo! Rsrsrsrsrs
Abraço

Ira Buscacio disse...

Ola, Antonio,

Retribuindo a visita cheguei e que grata surpresa. Um ótimo escritor.
Formidável o Vida de Professor.
Uma crítica, cheia de humor.
Parabéns!
Estou te seguindo e voltarei sempre.

Bjsssss

Antonio José Rodrigues disse...

Malu, mais uma vez obrigado. Abraços


IRA, acredito no seu senso literário. Obrigado pelas frases de apoio. A casa, isto é, a página é nossa, sinta-se à vontade.
Beijos

Anônimo disse...

Olá AJRS.

Essa é muito boa, demais. Foi lá na Distribuidora?

E por falar nisso, tu já tem linha, não? Manda pra mim, cara.

Um abraço.

Jair Feitosa.

Antonio José Rodrigues disse...

Jair, cara, para eu não cometer a mesma descortesia da loja, prefiro não a revelar. A linha continua imaginária. Abraços.

Salomão Oka disse...

Muito bom o texto, AJ. Acho que esse tipo de coisa ainda acontece. Pena que as vítimas desse tipo de situação não tenham seu senso de humor ou sua inteligência. Valeu!

Antonio José Rodrigues disse...

Obrigado, Salomão, pela visita. Depois do acidente, resolvi ver os acontecimentos com humor. A gente fica com uma paz interior impagável. Abraços

AyméeLucaSs disse...

Que saida estrategic, perfeita! E o idiota acreditando que havia razao! kkkkkkkkkkk
Perfeito o modo de voce pensar!
Se todos tivesse esta capacidade de ironizar a vida, mostrando inteligencia com um duplo sentido, os burros ficariam perdidos! kkkk

Adorei e vou continuar passando em varios temas, mas devagar, porque voce sabe que tenho de estar aqui fazendo a minha parte... Escrever para voce ler! rsrsrs
Bjus frios, kkkkk

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...