
Nessa época, os alunos veteranos aplicavam alguns trotes nos calouros ou bichos ou feras, etc. Os trotes eram sadios: um veterano entrava numa sala qualquer apresentando-se como professor e ministrava uma "aula" qualquer ou, então, pedia uma quantia em dinheiro acompanhada de uma foto para, segundo ele, confeccionar as carteiras estudantis. No dia seguinte, num mural qualquer, as fotos estavam coladas numa cartolina onde se lia:"Agradecemos a vocês pela cervejada de ontem à noite".
Pois bem, no primeiro dia letivo, entrei numa sala de calouros de Matemática. Apenas três alunos estavam conversando na sala e, no entanto, quando comecei a apagar o quadro, saíram olhando-me de soslaio. Pelo canto do olho percebi, pelas expressões de reprovação que me dirigiam, o que pensavam:"Acha que nóis é besta!"
Algum tempo depois, ouvi alguém falando no corredor:
- Vocês não vão assistir aula?
Um calouro disse:
- O professor ainda não chegou! Tem só um "neguim do cabeção" escrevendo umas besteiras no quadro.
Uma pessoa foi até a porta da sala, não olhei quem era. Depois ouvi:
- Este aí é o professor!
Sorrateiramente, os alunos, um a um, foram entrando na sala. Balançando as pernas, fiquei sentado sobre a mesa, só observando. Quando todos se acomodaram, eu, com uma expressão pesada e um olhar congelado sobre a turma, disse:
- Neste primeiro momento, gostaria de apresentar-me: meu nome é Neguim do Cabeção e estas besteiras que estão escritas no quadro é o conteúdo de Cálculo.