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segunda-feira, 23 de agosto de 2010

As multifacetadas do casamento II



As paredes verde-encardido do apartamento do hospital emolduravam-me a longos e vazios períodos de espera, silêncio, tensão e expectativa. Como uma estátua, o meu corpo, com todos os movimentos anestesiados, mostrava-se indiferente à dinâmica pulsante da vida.
Pessoas que, inexplicavelmente, eu tinha uma ojeriza repulsiva, antes do acidente automobilístico que sofri, estavam a visitar-me diariamente, enquanto que as consideradas colegas, na maioria abissal, nunca compareceram nem para perguntar como eu estava reagindo aos medicamentos. Eu não necessitava de comiseração, mas de oníricos bate-papos que emplacávamos madrugada adentro nos tempos de folgança. Não fiquei ressentido, mas introspectivo e crítico do comportamento humano. Praticamente, no apartamento sombrio do hospital, a minha mãe tornou-se enfermeira, médica, visitante, acompanhante e conselheira.
Na época, refleti: biologicamente, a tendência é o envelhecimento e, portanto, a incontestável morte dos progenitores de um indivíduo; os irmãos, geralmente, se casam e, então, para não viver no ostracismo familiar, o indivíduo necessita formalizar a sua célula social que, no futuro, sofrerá mitose geradora de novos indivíduos – disseminadores da história dos ancestrais.
Entendi que o medo da solidão é o maior aliado do casamento. A solidão transformou-me psicologicamente. No grande teatro da vida, vi vários “fantoches” de representações cênicas impecáveis. “Fantoches”, sem vida na minha história, capturados em preto e banco por uma enferma retina apertada por pálpebra inflamada. Registro que deixei no arquivo do tempo para ser destruído por traças da indiferença.
Não é, afirmo, uma atitude de revolta, mas uma tentativa de corrigir, sem afobação, os meus passos desordenados em direção ao infinito. Quiçá, ao nada ou a um metafísico buraco negro.

Um comentário:

AyméeLucaSs disse...

Eu li todos os capitulos de seu livro antes do amigo secreto se concretizar, mas com toda aquela agitaçao eu nao escrevi o que achei do seu imcompleto livro.

Bem primeiramente, queria dizer que nao foi dificil entender o que voce viveu dentro de um hospital, pois quando vivia no Brasil eu um ano antes de vir para Italia, me formei como auxiliar de Enfermagem e vivi um grande periodo de estagio em um hospital, circulando em todos os setores, até mesmo em setores de pacientes terminais onde cuidei junto a alguns colegas do curso, de um morto, preparando este para ser enterrado.

Quando iniciei o meu curso, alguns amigos e colegas me disseram que eu nao seria capaz de enfrentar tudo aquilo, porque eu era docil demais! kkkkk
E nao foi verdade, apesar de no meu primeiro dia de estagio ter desmaiado apenas ao ver a minha professoara retirar tres potinhos de um dedo inflamdo de um senhor, kkkkk cai dura no chao! kkkkk

Quando fui para assistir mais uma aula, falei com o diretor do curso que talvez deveria parar, pois fui um desastre...
Entao ele me respondeu que conhecia cirurgioes de alto gabarito, que ja desmaiaram como eu e me explicou que quando a gente cuida de um paciente, a gente nao pode viver as dores dele...
Temos que concentrar no trabalho, e nao atender aos seus apelos, e melhor ainda, pensar em outra coisa, como muitos fazem em uma cirurgia: Eles cantam, conversam da tecnologia, dos celulares mais modernos, rsrsrs

E assim eu modifiquei minha atitude, e no final ja trabalhando era requisitada demais em um policlinico me preferindo para uma injeçao feita por mim, por um curativo, pois diziam que eu curava com carinho, rsrs
Terrivel, pois a freguesia foi aumentando, e eu trabalhava mais que outros.rsrs

Entao eu lendo pude ver que, o que voce sentia era realmente o que muitos ali vivem...
Me desgostei quando ao ler voce falou que aqueles que voce gostava de estar perto, nunca foram te ver. Mas que raça de amigos sao estes que passam em nossas vidas e sao falsos ao ponto de nos desprezar e ignorar... Graças a Deus voce os reconheceu a tempo para se refazer...
Li que aqueles que voce ignorava te deram carinho.... E entao até mesmo voce aprendeu nisto tudo. E que liçao de vida Deus te deu e te mostrou...

Espero que agora voce esteja recuperado e que possa terminar o seu livro,
Te desejo que crie coragem para falar sobre o que voce pretendia falar, pois eu fiquei muito curiosa e o seu livro é uma passagem de experiencia para muitos.
Um livro que se for destribuido em um hospital para pacientes em recuperaçao dara muita força para tantos se recuperar.
Te deixo um abraço gelado e um beijo de -9°, uffa a coisa aqui ta brava, so mesmo debaixo de um bom edredon para se esquentar, rsrs

O meu E-mail é: aymeelucas@hotmail.com

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