sala VIP

sábado, 14 de agosto de 2010

As multifacetadas do casamento I

Recém formado e empregado numa indústria química farmacêutica, responsável pelo setor de engenharia, eu não queria nem saber em formalizações conjugais.

Não raro, no despertar matutino, os colegas, sobraçando violões, estavam a me esperar, pacientemente, para mais um dia gáudio que, rotineiramente, arrastava-se noite adentro. Naquele estágio de vida, tudo pra mim estava perfeito: morava na casa de meus pais, o horário não tinha limite, as mulheres eram conquistadas com relativa facilidade, desenvolvia muito bem a minha função na empresa, tinha um dinheirinho na conta poupança, usufruía a vida com uma tórpida inocência e et cetera e tal.

Casamento? Nem pensar! No entanto, segundo os profetas populares, um dia a roda grande terá que passar por dentro da pequena: sofri um acidente automobilístico. Por ironia da vida, exatamente no período de carnaval. Rei momo, rainha do carnaval e passistas flutuavam nas avenidas, bailes e bares da cidade, adornada com máscaras, elementos geométricos tridimensionais, bandeirolas, plumas, paetês, etc.

As colegas e os colegas não compareceram ao hospital para me visitar. Achei tal atitude compreensível: estavam na grande confraternização coletiva de danças exóticas, insinuantes, provocantes e de entregas mútuas. Não fiquei magoado, mas surpreso com a ausência quase completa deles durante os 18 (dezoito) dias que passei no hospital.

No meu período de internação, fiz uma instigante reflexão sobre o meu glamoroso pretérito e, portanto, resolvi tomar uma decisão: caso eu não morresse, iria, num compactado espaço de tempo, formalizar um casamento.

A solidão e os momentos de angústia ensinaram-me a enxergar o mundo por prismas multifacetados nunca vistos antes.



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