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terça-feira, 6 de abril de 2010

semana santa



Em 1682, pela primeira vez, com duração de oito dias, acertada no Concílio de Nicéia, cujo papa era Silvestre I, foi celebrada a primeira semana santa. A paixão, morte e ressurreição de Cristo são solenizadas nessa semana.
Cumpria-se, fielmente, na minha infância, uma semana santa, no entanto, hoje, respeita-se, ainda, um dia santo – a sexta-feira. Menino folgava, pois, segundo dito não podia apanhar durante “os dias grandes”: quem batesse um pequenino poderia ficar paralítico. Não se comprava nada: era proibido, não sei por quem, pegar em dinheiro. Era proibido correr, gritar, pular, cantar, brincar,... Segundo as crendices populares, tudo era proibido. Ou melhor, quase tudo. Só não era proibido fazer comida, muita comida! Um exagero mesmo! Abarrotava-se a despensa da casa com produtos de época: sardinha, abóbora, bacalhau de terceira, milho, ovos, etc. Não se podia comer carne. Inventava-se um tal jejum que, em sinopse, significava não se comer nada no período da manhã e, no entanto, empanturrar-se no almoço, que, religiosamente, era servido às doze horas. Em ponto. Grande sacrifício!
Lembro-me, com uma nostalgia contida, das viagens que fazíamos para a zona rural. Meu pai alugava o “carro” de seu Pernambuco e, portanto, na maior felicidade, saíamos, completamente apertados e sufocados dentro do “veículo”, rumo ao interior de Floriano (PI). A Belina verde esmeralda desbotada, completamente sambada (desalinhada, bancos furados e amarrados com cordas, lataria enferrujada, vazando gasolina, freios mentirosos, sem buzina, capô amarrado com fios de cobre, portas sem vidro, etc.), deixava-nos cheirando a gasolina, amarrotados, com roupas sujas de graxa e totalmente empoeirados, no entanto, chegávamos ao destino.
Naquela época, meu pai era um eximo contador de anedotas e, portanto, muitas pessoas ruralistas, durante horas e horas, acotovelavam-se para ouvi-lo. E o povo soltava gargalhadas que ecoavam nos capões.
Parece-me, balizado pela vivência, que a semana santa foi instituída para os homens folgarem. Na verdade, as mulheres trabalhavam dia e noite na cozinha e os homens jogavam dominó, baralho, peteca, damas, etc. As mulheres trabalhavam e os homens relaxavam deitados em redes debaixo de árvores frondosas e copadas. As mulheres trabalhavam e os homens contavam piadas e enchiam a cara de cachaça. As mulheres trabalhavam e os homens descansavam... durante oito dias consecutivos.
A geração contemporânea do meu filho não conheceu a semana santa tradicional e, portanto, no futuro, não terá lembranças de uma família unida e alheia a todos os afazeres do cotidiano continuamente durante oito dias. Não tenho religião, no entanto, aquelas férias em família, de uma semana a cada ano, marcaram, indelevelmente, a minha existência terráquea.
Hoje, sentado sobre o meio-fio da vida, olho para trás e vejo que muitas pessoas, bem próximas de mim, foram se cansando e, portanto, deitando-se ao longo do itinerário surpreendente e inexplicável da vida.

Um comentário:

Chico Mário Feitosa disse...

Na minha época eram quatro dias de regalias masculinas... eu sempre me perguntava o porquê de "semana" santa!

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