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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

cidadezinha



É manhã.
O sol arrebenta no horizonte ensangüentado. Numa parte qualquer do globo terrestre, uma cidadezinha – que não passa de um labirinto onde as pessoas fazem apodrecer as suas esperanças – é alvejada pelos raios solares. Os raios que fulminam as avenidas, ruas, ruelas e praças, fazendo a cidade espreguiçar-se, expulsam a ressaca noturna. Os motores dos carros, com os seus roncos cadenciados, fazem as articulações da cidade estalarem-se, uma a uma. De portas abertas, as casas parecem sorrir.
As mesmas casas de paredes apáticas. Lojas. Armazéns. Armarinhos. Não muda nada. Bons dias, boas tardes e boas noites repetidos, sem convicção, pelas mesmas pessoas. Pura formalidade. Ruas fétidas. O lodo escorrendo no meio-fio, o calçamento pontiagudo... Nada muda. Raros homens estrangulados, físicos e moralmente, por gravatas multicolores correm em destino ao serviço monótono do cotidiano: carimbar laudas de papel. Podem, perfeitamente, ser substituídos por um robô. Nada muda.
Como é que se consegue passar a vida inteira caminhando medievalmente em círculo dentro de uma cidadezinha? Não passa de um labirinto onde as pessoas fazem abduzir suas esperanças, seus sonhos, suas vidas... E nada mais.
É mais uma manhã.

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