sala VIP

sábado, 21 de novembro de 2009

péssimo dia, vizinho!



Acordei agredido por um som brega que, escandalosamente, espantava a noite. Noite que eu tentava, abusadamente, prender debaixo de um lençol listrado e enxovalhado.
Mal humorado, fiquei equilibrando-me sobre as pernas e sentindo coceira alérgica àquelas “notas” musicais desconfortáveis espiritualmente que, como um despertador não programado, o vizinho usava para sacudir a rua.
Tomei um rápido banho e, meio despojado, ganhei a rua estreita que, beijada arrepiadamente pelo vento, quebrava a minha irritação matutina. Um cachorro desfilava elegantemente sem perceber a minha presença solitária. Todas as casas estavam de fachadas cerradas, sérias e travadas como o meu espírito errante.
A cidadezinha tremia lentamente quando um carro aparentemente perdido passava e, aos poucos, era apagado pela linha do horizonte. Tudo se mostrava irritantemente igual e a paisagem monótona tragava o meu ânimo de continuar vagando por áridas ruas mortas. Tortas e torturantes. Aproximei a linha do horizonte dos meus pés, mas não consegui arrastar com ela as pessoas que estavam do seu outro lado e me faziam sentir saudades.
Cabisbaixo, sai empurrando a linha imaginária do horizonte com a ponta do nariz até a porta de minha casa. De repente, ela fugiu assustada pelo vizinho da música brega que, com uma voz de trovão, cumprimentou-me: “Bom dia!”.

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